segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Padrões Familiares

Qual é a nossa frase “preferida”? Ou, pelo menos, aquela que nos escapa dos lábios antes de termos tempo de pensar sobre ela? Será algo como “a vida é difícil”? Ou “lidar com os outros é complicado”? Ou “não se pode confiar em estranhos”?

Não ponho em causa a veracidade ou não das nossas frases “preferidas”, até porque aquilo em que acreditamos é absolutamente real para nós, ainda não o seja para os outros. O que lhe pergunto é, onde aprendeu essa frase? Ou esse medo? Ou essa forma de amar?

Vem de si? Da sua consciência sobre o mundo? Daquilo em que, após pensado e posto em causa, é escolhido como regra para viver? Ou, pura e simplesmente habita aí, como uma verdade absoluta, ainda que não seja a sua verdade?

Todas nós exibimos (bastante inconscientemente) padrões de comportamento. Estes são uma espécie de respostas e reacções automáticas que temos às diferentes situações e pessoas das nossas vidas A forma como aprendemos amor, é a forma como a vamos procurar. Às vezes, para alguns de nós, amor não foi sinónimo de cuidado, nutrição, protecção, carinho. Às vezes, o adulto que cuidou de nós estava demasiado assustado, demasiado cansado, demasiado infeliz para saber dar mais, ou melhor.

Mas aprendemos todas essas “regras de vida”, que nos foram passadas, muitas vezes imperceptivelmente, pelos adultos da nossa vida. Pais, professores, ou outras figuras. E seguimos com elas vida fora, procurando amor da forma como nos foi dado, tendo medo da vida se nos foi dito para o fazer, sendo infeliz porque “é assim a vida”.

Feliz ou infeliz, difícil ou não, compete-nos a nós, responsabilizarmo-nos, acima de tudo, por quem queremos ser, pela forma como queremos viver, pelas regras que queremos seguir. E olhar de frente para estes padrões com os quais vivemos, perguntando-nos se os queremos para nós.

Atraímos para nós aquilo em que acreditamos. Em que queremos acreditar?

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

A Criança Interior

Em todo adulto espreita uma criança - uma criança eterna, algo que está sempre vindo a ser, que nunca está completo, e que solicita, atenção e educação incessantes. Essa é a parte da personalidade humana que quer desenvolver-se e tornar-se completa"
Carl Gustav Jung

Criança interior é, hoje em dia, um termo muito usado no campo da psicologia e do desenvolvimento pessoal em geral. Ainda assim, atrever-me-ia a dizer que a sua definição não é clara para todos.

A criança interior poderia ser descrita como as memórias emocionais de como nos sentíamos em criança. Todos os aspectos dessas memórias. A brincadeira, a necessidade de colo, a curiosidade, a sensação de sermos heróis ou heroínas do jogo em que brincávamos, a insegurança, a sensação de não ser capaz, o queremos ser especiais para as pessoas que mais amávamos.

Conforme crescemos, a forma como nos expressamos, como percepcionamos a vida, como agimos, tornam-se mais elaboradas e mais subtis. Mas a criança permanece.

Muitas vezes, quando as memórias de infância são dolorosas, fechamos a criança num armário, a infância terminou e somos adultos sérios e racionais. Mas a criança permanece.

E permanece na sua forma de dor, de sabotagem, de crítica, de falta de criatividade. Permanece quando não nos sentimos capazes, quando as sensações corporais nos dizem que não somos suficientemente bons Surge a todo o momento, sob aquelas emoções que não conseguimos controlar. E, ao permanecer sombria, ironicamente, não nos permite crescer.

É ao validar a criança que habita em nós, tal como a sua dor, a sua percepção da vida, e também, a sua alegria, espontaneidade, capacidade criativa e alegria de viver, que nos tornamos unos connosco mesmos, que nos reconhecemos como um todo. Jung chamava-lhe processo de individuação.

A criança interior é o herói ou a heroína da nossa história. Ouvi-la é descobrir onde está, na caminhada transformadora que é a sua vida.